12 de março de 2008

O dinheiro ainda não paga nem compra tudo

Há dias em que mais valia não acordarmos... O Sol não raia, a meia-de-leite escalda-nos a língua, o salto das botas fica preso na calçada, as meias rasgam-se...
Finalmente à secretária! Agora todos reclamam da vida, da sorte... já não do patrão mas do Estado que prefere pagar subsídios de desemprego a investigar e sancionar os empresários que fecham uma empresa e abre outra na porta ao lado... Por pagar ficou a Segurança Social, o IRC, as indemnizações aos trabalhadores e os salários... valores que embolsaram. Os trabalhadores já nem pedem Justiça... Vêm para conseguir o desemprego, o Fundo Salarial e reclamam da injustiça gerada para aqueles Patrões que são sérios! Parece que hoje a dicotomia já não é entre Trabalhadores/Patronato mas entre a honestidade e a fraude...
Depois dum dia em que o Sol não raia e o cansaço nos quebra já nada se espera de bom, eis que aparece ainda mais alguém para se queixar, quando as portas já se deviam estar fechadas. Levou quase um ano entre o despedimento e a queixa a remoer a remoer...
Não importam ao caso os pormenores, a idade, a instrução, os motivos... Depois da história contada expliquei-lhe o que poderia requerer ao Tribunal de Trabalho e aquilo que nenhum Tribunal poderia apreciar por ser de natureza ética, moral...
Há muito que preciso duma caixa de lenços de papel na secretária, há muito que sei que os homens também choram e que por vezes é mais fácil desabafar com uma pessoa estranha do que com a pessoa com quem se vive, há muito que sei que por vezes só estou do outro lado da secretária para ver chorar... E não é para isso que o Estado me paga.
Isso o Estado não me paga, porque isso custa muito mais que lidar com papéis formar processos, interpor recursos!... Isso eu dou de mim e muitas pessoas dão de si noutras profissões.
- Gostei muito de estar aqui, foi o que disse quando saiu.
Senti-me em dívida, afinal eu só lhe dera um pouco do meu tempo desenxabido...
Afinal, mesmo no Inverno ao fim da tarde, o Sol pode raiar inesperadamente...

1 comentário:

Rosa disse...

Maria, nunca te canses de repartir tua alma sensível, a palavra branda, o olhar de ternura, a mão amiga, ainda que não te paguem por isso, existe uma recompensa que não se conta em moedas, em notas ou salários, apenas é paga por um bem interior que é muito raro e não tem preço.
Sei do pouco que te conheço, que ao longo da tua vida foste acumulando tesouros, que por serem tesouros estão fora do alcanse de alguns olhares, por mais perto que estejam. Tesouros que nos enriquecem o dia a dia de nossas vidas. Como eu conheço bem essas riquezas, minha amiga, também fiz delas prioridades em minha vida, carrego nas minhas costas uma talega atada pela boca, e que apesar de cheia é leve, e me dá uma doce sensação de missão cumprida.
Quem sabe se um dia os nossos caminhos se cruzam, e num merecido descanso escolhamos a sombra refrescante dum velhinho sobreiro, lá no nosso Alentejo amado, e aí sim desataremos as talegas e trocaremos experiências.
Seria bom. Vai ser bom.
Até lá, vamo-nos encontrando nesta troca de poesias da alma.
Aquele abraço da amiga certa
Rosa Dias