11 de setembro de 2009

Vilar de Perdizes

Dia 5, mês 9 de 2009.
As estradas estreitam depois das cidades e nem todos os caminhos vão dar a Vilar de Perdizes.
Até a Lua Cheia a nascente empoleirada no cimo dum monte com olhos nariz e boca risonha parece gozar com a nossa orientação iluminando e animamdo as silhuetas das bermas, giestas gigantes e castanheiros, e enegrecendo as pedras e o bréu do alcatrão.
De repente um gato preto cruza a estrada e entramos em Vilar de Perdizes.
Silêncio, portas e janelas fechadas de casas vazias, ruas estreitas de carro de bois, tanques, cruzes... E são os automóveis enfileirados pelos becos que nos confirmam que é ali.
O arraial não é esterofónico, em alguns recantos só o lusco fusco.
Sou recebida por uma mensageira de Iemanjá. Mas posso escolher, conforme o preço que queira pagar e a minha crença, outras formas de saber o meu destino o karma como curar males do corpo e espantar os da alma... Mas se apenas quiser saciar o estomâgo há que comer a bola de carne o pão de centeio, beber ginginha ou o licor que levanta o pau... E para os que não crêem, há sempre uma caipirinha com tremoços ou amendoins de petisco.
No Salão um Senhor Padre conversa com um grupo de Motards que explicam perante a assembleia, de que faz parte o Padre Fontes ( o mentor do Congresso de Medicina Tradicional ) como valorizam a saúde a vida a natureza a boa comida o divertimento - tudo bons remédios para uma vida saudável.
Lá fora é grande a azáfama do Diabo e ajudantes na preparação do caldeirão da queimada, em volta da qual todos se vão juntando em círculo para receber a sua dose. Valha-nos a benção do Senhor Padre Fontes sobre a mistela que à meia-noite levamos à boca. Pensei, ai a minha hérnia do hiato!... Mas não, esta aguardente mística com cheiro a canela desliza como água benta por onde passa.
Benta não será, mas sim divina a água que ainda corre por levadas e tanques nestas terras do Barroso no fim do Verão, tornando frescos os dias verdes os lameiros e reluzentes os rostos das gentes. Em cada encruzilhada no cimo dos montes nos lugares de gente o homem agradece esta e outras bençãos ou pede a suprema protecção divina com cruzeiros, capelas e capelinhas, imagens de Cristo de Santos e sempre a da Virgem Maria. É tanta a fé que espantará o medo... Pois que coisas do Demónio também andam por aqui! Há pedras bolideiras pedras que imitam os pastores cabaças com formas eróticas, até os cornos das vacas parecem coisa do Demo...
Fiquei fascinada pela região do Barroso que aconselho vivamente.
E aconteceu-me mais do que conto, como dormir no quarto nº 13, num Hotel dirigido pelo Padre Fontes, conhecer uma sua irmã numa terra e um seu irmão noutra bem como a casa onde nasceu, sem que de nada disso soubesse antes e nem por ninguém fosse guiada...
Nada é ficção.  

2 comentários:

Ezul disse...

Só lamento não ter tido oportunidade de assistir às conferências. Quando tiver oportunidade, irei a Mourilhe.Conto ficar no hotel do padre Fontes e participar na ceia do Diabo.A zona do Barroso é, realmente, extraordinária. Aconselho a visita ao Ecomuseu, com vários polos espalhados por Montalegre e pelas várias aldeias, nomeadamente Pitões das Júnias e Vilar de Perdizes.

marialascas disse...

Tens toda a razão e em breve surgirá um post sobre Pitões das Júnias e um dos polos do Ecomuseu.