4 de julho de 2012

Coutadas intelectuais ou pseudo

Alentejana, filha e neta de pastores e ceifeiras ( gente de pele queimada pés descalços e barriga vazia) pouco entendo de coutadas.
A palavra lembra-me terra de mato onde veados lebres coelhos e perdizes viviam em liberdade até ao dia em que por ali entrava o exército de caçadores, homens de posses do lugar e de longe fardados com cão e espingarda em punho... e a liberdade lhes jorrava em sangue pelas roupas exibindo à cintura e nos carros os troféus!

Na verdade tal palavra nunca me agradou.
Com o correr da vida apercebi-me de muitas outras coutadas: políticas, religiosas, económicas, raciais... Nos últimos anos descobri as coutadas culturais ou pseudo, na verdade isso significa mentes fechadas, parciais, cheias de tabus, vaidades... ou seja tacanhez de espírito!
Sempre me tentei demarcar de qualquer grupo intelectual, mesmo a nível poético! ou sobretudo a nível poético. O que me causou dissabores, mas ainda bem que a tempo me retirei dessas ideologias.

Não sou alinhada e, por isso, não tenho camaradas de partido nem tenho que trazer os críticos ao colo, dar palmadinhas nas costas a quem me pode subsidiar ou publicar um livro...
E veja-se que caçadores destas coutadas até falam de liberdade, com exaltação sobretudo se for coisa do passado...
    
Folgo em dizer que continuo livre! ao menos na minha escrita...
Assim me revejo em Poetas como Eugénio de Andrade e Sophia, que me chegam de exemplo.

2 comentários:

Anónimo disse...

Está esta terra cheia delas e cresce o seu número em movimento muito veloz.
Bem sei que há que achar a diferença entre as grandes coutadas que abrigam nelas dois ou três figurões com poder nos "mídia" e nos centros de produção de opinião e decisão, mais meia dúzia de lambe-cús esperançados na progressão, e as pequenas com dezenas e centenas da aspirantes a intelectuais. Nos dois casos apenas se repetem os esquemas da Sociedade que arruma o pessoal em pirâmide, a base com os milhões de pobres (que até podem aspirar a ser um dia remediados ou até ricos), encolhendo a superfície do corpo à medida em que cada camada é sempre (ou julga ser) mais importante, até se atingir o topo dos tais figurões. Por fora destes corpos, normalmente é que gravitam os valores seguros.
A proliferação (cogumelos em tempo de chuva) de editoras veio finalmente provar que somos um País de poetas. Milhares de cidadãos estão neste momento a tentar encontrar as palavras certas para rimarem nos versos que uma editora qualquer publicará a troco de umas massas garantidas, para que o poeta da rua tal, possa mostrar aos vizinhos a prova da sua poetice. Com isto, grupos e grupinhos vão comentando-se uns aos outros com frases muito vivas como: "que lindo", "maravilhoso", "você é muito profundo"...
E, diga-se, nada disto é mau sinal.porque são os "pobres" apenas a usar o seu direito a emparelhar por baixo, no que vêm praticar por cima

José Brás

marialascas disse...

José Brás com o seu comentário reforçaste o que pretendi dizer.
E acreditaremos nós, ainda, que a nossa voz pode ser ouvida sem que que nos encavalitemos numa dessas fatias piramidais?!...