3 de junho de 2009

PORTO SENTIDO - 2

Seja dos saltos altos do nariz empinado da cabeça na lua do destino da inexplicável atracção pela mãe-terra.... o que é certo é que em média, entre escadas do tribunal os degraus dos passeios os buracos na calçada, devo cair uma vez de quinze em quinze dias.
Vale-me a sorte de nunca ter caído com sérias consequências, sendo normalmente os joelhos que sofrem. Esta semana cumpri a estatística logo na segunda-feira de manhã, em plena Rua de Santa Catarina no Porto, espalhando à minha volta daqueles envelopes grandes de exames médicos que nesse dia precisava levar comigo. Enquanto caía e pensava que me doía o joelho e decidia levantar-se terá decorrido um segundo, mas há segundos de dão para pensar em muitas coisas. Enquanto eu pensava, "caramba ninguém me ajuda a apanhar os papéis, a levantar etc" eis que vem de longe surge uma velha senhora de braços abertos, empunhando a mala de mão, bradando " tanto cavalheiro e ninguém ajuda a senhora".
Com uma dúzia de anos a menos, eu no meu silêncio do sul pensara de modo mais generalista - homens mulheres jovens... - vendo em todos a mesma falta de humanismo.
Com a ajuda da senhora, que continuava a manifestar o seu desagrado pelo comportamento masculino actual, eu preferia pensar que se eu não estivesse de calças de ganga mas com uma roupinha mais vistosa "algum cavalheiro" teria reparado em mim e me prestado a sua sedutora ajuda. Pois que há lugares e dias em que eles existem, mas a sua actuação carece de condições adequadas para a performance...
Dirão os homens: as mulheres não sabem o que querem! se somos cavalheiros já nos estamos a meter, se usamos da igualdade de sexos somos toscos uma espécie a a bater, se nem sim nem nim somos desinteressantes, se aparece um totó de BMW e salamaleques todas se derretem... Há homens que têm o maior orgulho a sua maior vaidade no seu carro ( como daí depende a auto-estima!) mas não não entendem como é as mulheres na avaliação do outro incluam coisas materiais e ilusórias como o carro que tem... Sim, algumas de nós gostamos de carros! olhamos duas vezes para um descapotável vermelho ( se for a minha marca preferida até olho mais!) - e vezes há que nem vemos quem está ao volante - e sim um desconhecido num Renault a cair ou num Mercedes desportivo último modelo não é, aos nossos olhos, o mesmo homem!... E daí, seremos impuras por isso? são privilégios, características do homem?

A questão da igualdade dos sexos e do que o homem espera ser o comportamento duma mulher e a mulher dum homem ainda está bastante confuso no nosso pensamento.
Se o pensamento é veloz também está marcado por vivências precoces e imbuído de aprendizagens centenárias, cuja alteração carecerá da passagem de várias gerações... Mas veja-se que o meu pensamento já não foi igual ao da senhora que como boa portuense ( uma mistura do conservadorismo e educação inglesa com a força granítica, rude e directa, da mulher do norte) falou alto e sem medo, pugnando pelo comportamento do homem ideal nos valores da sua geração.
Eu mais calada ( eivada do igualitarismo dos sexos ) fiquei-me, pela falta da humanidade de todos...
A geração depois da minha, provavelmente, pensaria que não era caso para intervenção de outrem, seguindo o caminho que é seu, só se detendo dele em caso de alerta vermelho!
A cada geração um pensamento diferente, que para a mesma é o que faz mais sentido...
Ignorantes aqueles que julgam que só o pensar da sua geração é que está certo, que os mais velhos estão ultrapassados e os jovens ainda não sabem o que querem... De certo que muita da realidade lhes está a passar ao lado... Nesta forma de pensar radicam muitos dos conflitos e incompreensões entre pais e filhos, entre professores e alunos...

2 comentários:

Ezul disse...

Para mim, a questão também é a da falta de humanidade, não a dos papéis dos sexos. Afinal, foi em função desse valor que a senhora actuou. Creio que, independentemente da evolução desses papéis, a humanidade já percorreu um percurso demasiado longo, já passou por determinadas fases, ou processos de pensamentos, que não permitem justificar a indiferença. Agora, esta indiferença só pode ser um sinal do lado mais negativo da dimensão humana: seja em homens, em mulheres, em velhos, em novos... Imaginem se eu, lá por ver cair ao chão um matulão de cem quilos, não me vou dar ao trabalho de perguntar se precisa de ajuda, ou se está magoado?...

YellowMcGregor disse...

Embora prezo possuir a característica intrínseca de cavalheiro, penso que na situação relatada estaremos, na verdade, perante uma autêntica falta de educação: ajudar alguém que precisa não requer um “bónus” adicional (um bom par de pernas, por exemplo). Basta a agradável sensação de sermos úteis.
Com um ramo de :-)
PS: voto de melhor sorte em futuras quedas (já que serão tão recorrentes) :-P. Pura brincadeira. Meu sincero desejo para que não voltem a acontecer, obviamente.