13 de outubro de 2011

Impostos

Despe-me a roupa que me deu forma, confere bem etiquetas


desce-me dos saltos que me alteiam

... arranca-me os brincos a que dão brilho meus olhos

tira-me a mesa, tolha subtileza da chávena vinho queijo pão

leva a cama, o brocado da colcha o cetim e a seda dos lençóis

todos os adobes e as tijoleiras do chão

(não, nem abóbadas nem arcos! meu pai os fez com a mão!

nem a cabana de jasmim que o amor me teceu)

o resto leva tudo! ficar-me-á sempre o infinito...

o Sol o céu azul a Lua-Cheia os pássaros meus irmãos

o meu sentir a minha paixão

poderás arrancar-me da terra, nunca a terra de mim

leva lápides de mármore e as ossadas de meus avós

sempre foram servos teus

esse é o poder do direito e a fraqueza do Império

… e nem há naus a lançar ao mar

nem filhos a dar à Índia ou ás granadas dos turras

e já nem há como partir, p’ra onde partir

nem jornaleiros para fabris, França ou Brasil

(que tão longe se fez Lisboa)



ficarei, despojada de tudo o que partir me deu

presa de novo ao horizonte

o pobre braço nem a colher da terra aprendeu!

- e é tanta a terra sem nada a fazer

como outros buscarei comida p´ra boca

na arte daqueles que fogem da morte

Lótus Cleópatra Madalena – um nome assim terei

hortelã da ribeira e orégãos do monte

tão saborosos mesmo em mesa de rei

nunca matam a fome à ganância das bestas….



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